Breves considerações sobre os recentes índices de qualidade de educação divulgados pelo MEC
Ainda no século XVIII, um dos teóricos mais conhecidos do liberalismo, Adam Smith, ao falar da educação, afirmava: “Instrução para os trabalhadores, porém, em doses homeopáticas”. O autor do clássico “A Riqueza das Nações”, publicado em 1776, defendia que os trabalhadores tivessem uma educação suficiente para a aquisição de algumas operações básicas, para melhorar a sua produtividade no trabalho. Nada mais do que isto. Aliás, para além disto, a educação poderia levar os trabalhadores a insurgir contra a situação de exploração em que viviam. Conhecimento é força. Já dizia o filósofo italiano Antonio Gramsci.
A visão utilitarista da educação escolar como simplesmente uma forma de adequar o estudante ao mercado de trabalho – e às demais relações estabelecidas na sociedade capitalista – contamina, ainda hoje, as políticas educacionais e os índices de qualidade de educação em nosso país. Precisamos superar, o mais rápido possível, a ideia da educação para o mercado e avançar na lógica da educação como direito humano, na lógica da educação escolar como instrumento para a formação integral dos nossos estudantes.
Os dados do Ideb (Índice Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica) 2009, divulgados no último mês de julho pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), demonstram a necessidade de a sociedade brasileira colocar, de fato, a política educacional como uma das suas prioridades centrais. No entanto, a sociedade precisa sair do jargão de que a educação é fundamental para o desenvolvimento de qualquer povo. O desafio é transformar este discurso fácil em políticas concretas de fortalecimento da oferta pública da educação. Porém, isto só será possível se a sociedade assumir o processo educativo como uma ação humana prioritária, na perspectiva da formação integral dos estudantes, superando, assim, a visão nefasta de preparação exclusiva para a inserção subalterna no mercado de trabalho.
Os dados divulgados apontam uma sensível melhoria na educação em nosso país. O Ideb, criado em 2005, calcula – em uma escala de 0 a 10 – o desempenho de nossos estudantes em Língua Portuguesa e Matemática. O Paraná superou as metas previstas para o ano de 2009. Para a 4ª e 5ª séries, o Estado atingiu o índice de 5,4. A meta era de 5,0. Com isto, o Paraná atinge o indicador previsto para o ano de 2011. Nos anos finais do Ensino Fundamental, observa-se também um crescimento: o Estado, superando a meta prevista para 2011 (4,0), atingiu o índice de 4,3. Já na 3ª série do Ensino Médio, o índice de 4,2 fez com que o Paraná atingisse a meta prevista para o ano de 2013.
Este movimento de melhoria também pode ser observado no município de Colombo. A rede pública superou em 0,5 a meta para o ano de 2009 (4,5) nos anos iniciais do Ensino Fundamental e em 0,3, a meta para os anos finais deste segmento. O objetivo era de 3,5. Este avanço nos índices de qualidade se observa também nos dados gerais do país.
No entanto, quero alertar paro o fato de que estes avanços ainda são muito pequenos. Ainda estamos muito distantes de índices defensáveis de qualidade da educação. Abaixo da média. E o que fazer para ampliar, de forma concreta, a qualidade da educação brasileira? A resposta a esta pergunta daria um outro artigo. No entanto, vou me atrever a tecer algumas reflexões.
Uma política educacional consistente precisa levar em conta vários fatores: investimento financeiro, infra-estrutura, valorização e formação dos seus profissionais, envolvimento da sociedade, gestão democrática e um bom sistema público. A Conferência Nacional de Educação, realizada em abril deste ano, apontou alguns caminhos. Um deles o de duplicar o investimento na educação até 2014. O outro, a criação de um Sistema Nacional de Educação articulado, a fim de que a educação em nosso país se consolide como uma política de Estado, não de governos. É um bom caminho, mas não suficiente. Não vamos ter uma educação de qualidade sem alterar o cenário de desesperança que afeta nossos educadores. Além do desprestígio social da profissão, os educadores enfrentam, nas escolas, um quadro de frustração, ao não ver seu trabalho cotidiano materializado no conhecimento de todos os estudantes. Este, junto à indisciplina e violência, resulta num aumento do adoecimento nunca visto na educação. Está muito penoso o trabalho do nosso nobre educador. Algo concreto precisa ser feito. A política educacional precisa enfrentar este quadro.
Em várias palestras que tenho feito, falo do meu sonho de ter uma escola pública como a que tive na época de seminarista. Tínhamos aula pela manhã, horários para estudos à tarde e alguns dias à noite. Em algumas tardes e noites, tínhamos aulas de música, teatro, datilografia e esporte. O seminário tinha uma biblioteca excelente. Livros de literatura e história universal. Foi lá que tomei o hábito da leitura e uma ligação muito forte com a cultura. Foi lá que me apaixonei pela profissão de professor. Era uma formação para a vida.
Luiz Carlos Paixão da Rocha é mestre em Educação pela UFPR e diretor licenciado da APP-Sindicato
Artigo originalmente publicado no jornal da APMC-Sindicato / Edição Agosto 2010
Por Rúbia Mara em 27 de agosto de 2013 às 22:27.
Muito pertinente as reflexões, são de fato a realidade da educação no nosso país. As reformas educacionais divulgam a melhoria da qualidade da educação, mas estão fortemente influênciadas pelos interesses do mercado, como é o caso do movimento, Todos Pela Educação. Sem dúvida, o professor sofre cada vez mais os impactos dessas políticas. A sociedade precisa realmente se comprometer com uma educação com qualidade social sem a manipulação de grupos interessados.