A grande mídia confunde a população alimentando uma falsa polêmica sobre livro didático adotado pelo MEC para a educação de jovens e adultos. Gostaria de ver a mídia colocar em pauta a importância do Plano de Educação para os próximos dez anos em tramitação no Congresso Nacional. Como seria bom para o país se a mídia, ao invés de se ocupar de polêmicas fabricadas preocupar-se com a necessidade da ampliação dos investimentos em educação, a melhoria da carreira dos educadores e o fortalecimento do caráter público da escola. O debate do livro esconde os verdadeiros dilemas da educação brasileira.
Veja nota da editora sobre a polêmica:
Uma frase retirada da obra Por uma Vida Melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de Jovens e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de receber livros do Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da Educação promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e professores façam suas escolhas.
O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam flexionados para concordar com um artigo no plural.
Na mesma página, os autores completam a explanação: “na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular – plural) e em pessoa (1ª -2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam também: “a norma culta existe tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta”.
Pode-se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta, apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa. A abordagem é adequada, pois diversos especialistas em ensino de língua afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa pode ajudar na apropriação da norma culta. Uma escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos sem menosprezar a cultura em que estão inseridos. Defendemos a abordagem da obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua função mais nobre é disseminar conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas possam saber por que e quando usá-las.
O debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação. É preciso, entretanto, tomar cuidado com a divulgação de matérias com intuitos políticos pouco educativos e afirmações desrespeitosas em relação aos educadores.
A Ação Educativa está disposta a promover um debate qualificado que possa efetivamente resultar em democratização da educação e da cultura. Vale lembrar que polêmicas como essa ocupam a imprensa desde que o Modernismo brasileiro em 1922 incorporou a linguagem popular à literatura. Felizmente, desde então, o país mudou bastante.
Muitas pessoas tem consciência de que não se deve discriminar ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio. Tais mudanças são possíveis, sem dúvida, porque cada vez mais brasileiros podem ir à escola tanto para aprender regras como para desenvolver o senso crítico.”
Por Hélio de Sousa Reis em 23 de maio de 2011 às 3:50.
Lamentável a postura de grande parte da mídia e dos “donos” da língua em relaçã
ao livro aprovado e indicado pelo MEC. Não passa de uma falsa polêmica e de
uma manipulação de uma frase pinçada e fora do contexto do livro. Será que le-
ram o capítulo do livro em questão? Li e achei ótimo. Deixa bem claro que o
aluno deve aprender e dominar o padrão chamado culto da língua, principalmente
a forma escrita, para não ser discriminado e tratado como cidadão de segunda
classe neste país ainda campeão da desigualdade.
Me parece que voltamos à Idade Média. Querem condenar a autora à fogueira da
Inquisição por ter senso crítico e se fundamentar nas descobertas científicas da
Linguística que desmistica os dogmas da Gramática Tradicional. Galileu Galilei escapou por pouco da fogueira ao comprovar que a Terra não é estática e gira em
torno do Sol. O que incomoda a estes conservadores medievais é que a lingua padrão envolve a questão do poder que marginaliza e estigmatiza as variedades populares. Que tal a mídia chamar a professora em cadeia nacional para esclarecer a falsa polêmica de uma vez por toda? Santa ingenuidade da minha parte!!