Curso, da UFPR, traz temáticas diversas na produção de conteúdo voltado à promoção da igualdade racial

Professores da rede estadual e municipais de várias cidades do Paraná, representantes de entidades ligadas à promoção de igualdade racial participam do curso de especialização “Educação nas Relações Etnicorraciais”, promovido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). As aulas iniciaram no último dia 24 de setembro e contou com a presença do presidente do Conselho Estadual de Educação, Romeu Gomes de Miranda.

O curso tem a coordenação do professor doutor Paulo Vinicius Baptista da Silva, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro NEAB/UFPR. A primeira aula foi ministrada pelo professor e secretário de Imprensa e Divulgação da APP-Sindicato, professor Luiz Carlos Paixão da Rocha. O foco foi o histórico da lei 10.639/2003, que colocou como obrigatório o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas.   

Durante a aula, vários professores trouxeram exemplos da forma como vem sendo tratada a temática da lei. Alguns exemplos positivos de contribuição no fortalecimento da legislação, outros nem tanto. Foi apontado que muitas escolas tratam a questão apenas durante o período de 20 de novembro, e não incluindo diretamente no currículo ao longo do ano.

Uma das situações mais chocantes apresentada foi a de uma representação que uma escola que promoveu onde as crianças brancas encenaram que estavam chicoteando as crianças negras. O grupo debateu a falha na condução de um processo como este, em que não há percepção crítica do ensino baseado na lei e que coloca a necessidade de ensinar e mostrar aos alunos a importância da população negra como agente contribuinte da construção na nação brasileira a partir de sua história e cultura.

O professor Paixão destacou a importância do curso em que é possível socializar as experiências e apresentar situações concretas de ações positivas, trazendo, assim, um salto de qualidade. Para o secretário da APP, é preciso estar atento a falta de conhecimento que acaba reforçando estereótipos, criando construções negativas e preconceituosas no ambiente escolar.

Durante o encontro os professores puderam retomar alguns conhecimentos, com relação ao histórico da inclusão do ensino da cultura afro-brasileira e africana na sala de aula. Foi apresentando as mobilizações do movimento social que, ao longo do século 20 e nos primeiros anos do século 21, foram responsáveis pela pressão para criação da lei 10.639/2203.

Para Paixão, a realização de um curso de pós-graduação de educação étnicorracial na UFPR é de suma importância para a sociedade paranaense. Ele afirma que a iniciativa promove para a universidade a produção teórica mais avançada no campo da promoção da igualdade social e racial. “Isto vai propiciar que os educadores das redes estadual e municipais possam a partir da teoria aprimorar o trabalho cotidiano dos educadores nas escolas. Além disso, a experiência que os educadores trazem no cotidiano escolar garante um aprofundamento maior na temática”, afirmou.

Para o representante da ACNAP Jaime Tadeu, participar do curso de especialização garante uma soma no conhecimento e uma oportunidade de socializar experiências. “Consigo somar a experiência da militância com a teoria. E a questão da metodologia que iremos adquirir aqui é um conhecimento muito rico para aprimorar o trabalho na sala de aula”, diz.

Durante os debates, os professores enfatizaram seu interesse em multiplicar o conhecimento que estão adquirindo para os demais da rede em que fazem parte. Para a pedagoga Monica Luiza Simião, a falta de conhecimento reforça estereótipos no ambiente escolar, frisando sempre a questão da escravidão, deixando de lado importantes contribuições que a população negra realizou na formação da identidade nacional, presente na história do país.

Para a professora Evelyn Cristiane Cordeiro, do Colégio Estadual Guaraituba, existe uma certa resistência por parte de alguns professores para trabalhar a temática “É preciso quebrar essa resistência que alguns professores demonstram. Muitos não aceitam a abordagem no conteúdo. E já existem muitos materiais. O que falta mesmo é vontade para quebrar o preconceito. E a informação que estamos adquirindo aqui é prioridade para reduzir essa situação”, disse.

O curso finaliza no final de 2012 e acontece todos os sábados na UFPR, sempre trazendo professores com temáticas diversas na produção de conteúdo voltado à promoção da igualdade racial.

Texto cedido pela jornalista Eli Antonelli