(Saudades da Viação Carreira!)

É tempo de férias para muitos brasileiros, especialmente para os menores.
Fico imaginando o tanto de pessoas que estão neste momento, viajando por este país de meu Deus! De norte a sul, de sul ao norte, os aviões estão cheios.
Por ironia do destino, viajo, mas não a passeio, a trabalho. Participarei de um seminário nacional de dois dias sobre o fortalecimento da comunicação sindical. Lá estarão dirigentes da imprensa dos sindicatos da área da educação de todo o país.
Deixando um pouco seminário, volto a observar e sentir a viagem.
A primeira constatação: o povo está viajando de avião. Que beleza! Isto é reflexo da melhoria das condições de vida da população brasileira. Mérito das políticas adotadas por Lula e Dilma. Muito feliz com tudo isto!

Na poltrona de trás escuto a voz alegre e saltitante de uma criança: “ Vó! Nós estamos parecendo rico!”
À frente, a outra criança, se diverte em abrir e fechar a cortina da janela. Uma outra, numa espontaneidade singela, que só alguém do povo pode ter, chama o pai para ver o avião atravessar as nuvens. Sinto uma satisfação enorme ao observar aquelas crianças se se alimentando de alegria. Olho para avó, e por segundos, naquele rosto castigado pelo tempo contemplo os olhos umedecidos de emoção. A beleza deste momento é suplantada pelo choro de uma criança em virtude de um motivo qualquer. Choro que também tem a sua beleza. Pode chorar, o dia, o tempo é todo seu!

Assim, a viagem segue nos ares. Vozes de crianças em um coro desordenado ecoam pelo salão. Cansado da monotonia, de repente pegando todos de surpresa, um terno menino corre em disparada pelo corredor. Quase derruba a aeromoça. Aliás, até elasestão com mais cara de gente. Gente de carne e osso.

Ah! Vendo tudo isto como bateu forte em mim uma danada nostalgia. Lembrança das minhas primeiras viagens de ônibus. Alguém se lembra da antiga Viação Carreira? Será que ainda existe? Eu lembro muito bem…
Na beira do carreador, em frente ao asfalto, na região das fazendas (Nossa Senhora Aparecida, Coroados, Porta do Céu) aguardávamos com ansiedade a chegada do ônibus. Quando o avistávamos lá na curva balançávamos o braço e a mão para que o motorista parasse. Entrávamos desconfiados, olhando cabisbaixos para a platéia. Sentávamos e já éramos atendidos por um simpático cobrador, que mediante o pagamento de alguns dinheiros nos presenteava com alguns bilhetes picotados por uma espécie de grampeador da mais alta tecnologia. O destino era quase sempre os mesmos: Florestópolis, Porecatu, Jaguapitã.

As viagens eram um poço de descobertas e de histórias. Ali ficavam expostos dramas e alegrias familiares, histórias de injustiças e de valentias. E eram muitas…
Lembro-me de um dia, em que por um descuido de uma passageira, em uma freada repentina do ônibus, centenas de cebolas rolaram pelo chão! Que situação. Todo mundo catando cebolas no chão do ônibus. O povo é muito solidário, mas também nunca perde uma piada. Imaginem as que foram feitas ali! Em outro dia, o desfile ficou por conta de repolhos. Animais eram proibidos. Mas era difícil uma viagem sem a companhia de um deles: cachorro, gato, papagaio, frango, etc.
E os cheiros? Hum! Cheiro da mexerica, da manga rosa, do pão com mortadela, de goiaba madura, de gabiroba, de torresmos, de k-suco, de jabá, de sardinha enrolada em papel jornal. Busco estes cheiros e sabores até hoje!
Ufa! Viajei literalmente para o passado. Nostalgia na veia!
Parece que já estamos chegando. Escuto: “ Já dá pra ver as coisas mais grande, vó!!!
O passado se mistura com o presente. Ora de puxar a cordinha para o avião descer!
Ops! Já chegamos? Nem vi a viagem passar.
Chegue! Ao descer do avião, observo o olhar frio e repugnante de um deputado que estava no voo. Com certeza, ele não suporta povo. Ainda mais, dentro de um avião.
Brasília, 17 hs.
15/07/2013