O Censo do IBGE que começou no domingo (01/08) confirmará o que estudos acadêmicos, e a própria Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), vêm indicando: a soma de pretos e pardos auto-declarados passou de 51% e o Brasil já é um país de maioria negra.

O quesito raça é pesquisado desde o primeiro Censo realizado em 1872 e se manteve no segundo, em 1890. Nos Censos de 1900 e 1920 foi suprimido, retornando em 1940, sob a denominação de cor. Em 1970, sob a ditadura militar, voltaria a ser novamente suprimido, voltando a aparecer no de 1980. Em 1991, o quesito cor voltou a figurar no Censo, a exemplo da nova categoria “indígenas e amarelos”.

O Censo de 2010 mobilizará 191.972 recenseadores, 33.012 agentes censitários e 332 analistas censitários. Serão percorridos os 5.565 municípios e 58 milhões de domicílios serão visitados. O critério adotado pelo IBGE é autodeclatório. No quesito raça/cor as alternativas são: preto, pardo, amarelo, indígena e branco.

O Censo também deverá apontar o crescimento das religiões de matriz africana, graças a iniciativas como a do Coletivo de Entidades Negras (CEN), que lançou a campanha “Quem é de Axé diz que é”. Segundo seu idealizador, o jornalista Márcio Martins Gualberto, colunista de Afropress “as religiões de matrizes africanas, por preconceito, ainda são associadas só a negros, pobres e analfabetos”.

“Isso leva muitos a se dizerem católicos ou espíritas, em vez de umbandistas e candomblecistas”, frisa Márcio. O Censo de 2000 registrou que 0,3% da população declarava ser adepto de religiões afro.

Não deixe sua cor passar em branco – Entidades do Movimento Negro de todo o país também retomaram a campanha “Não deixe sua cor passar em branco”, que acontece desde 1991.

De acordo com o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil (2007/2008), coordenado pelo economista Marcelo Paixão, apenas duas regiões, das cinco do país, são majoritariamente brancas: as regiões Sul e Sudeste.

As demais – Norte, Nordeste e Centro-Oeste – têm maioria negra. Mesmo assim, também nas regiões Sul e Sudeste estudos indicam que o contingente de pessoas negras vem aumentando. De 33,4% para 40,2% na região Sudeste e de 15,2% para 19,7% na região Sul

Campanha é alerta – Segundo o sociólogo Marcos Cardoso, uma das lideranças da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) a campanha ‘Não deixe sua cor passar em branco!’ tem o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada.

No Censo deste ano Cardoso disse que a campanha terá o mote “Sou negro e sou de Axé”, que é a forma de incentivar aos adeptos de religiões de matriz africana a assumirem sua identidade religiosa.

Identidade – Cardoso enfatiza a importância da população negra assumir sua própria identidade: “Enquanto estivermos, como estamos hoje – após 122 anos da abolição da escravatura – vivendo uma abolição não conclusa, precisaremos reafirmar nossa etnia do ponto de vista político, econômico, habitacional, na área da saúde, na área da educação, nas condições de supressão da liberdade que não se dá apenas aos presidiários, mas a pais e mães que clamam por políticas para garantir que seus filhos e filhas possam crescer com dignidade e sem ameaças”, afirma.

Fonte: Afropress