Sem ousadia e sem o rompimento do conformismo de governantes e de  boa parte das direções sindicais a educação pública caminhará para um enorme abismo, no qual o conhecimento será um mero detalhe das políticas educacionais em voga

Quando muito de nós iniciamos nossa vida profissional no ambiente escolar tínhamos a sagrada, esperada e merecida férias/recesso de julho. Tínhamos 30 dias para recarregarmos as energias e nos prepararmos para o segundo semestre do ano.  Havia toda uma organização também na sociedade para as férias escolares deste período. Hoje, mesmo com o crescimento do desgaste do trabalho dos educadores, este recesso  caminha para ser apenas uma lembrança distante ( pelo menos na rede pública de educação do Paraná). Ele vem sendo reduzido ano após ano. Neste,  ele se resumiu a praticamente uma semana. É um absurdo.

Com certeza esta medida terá implicações enormes na qualidade do trabalho dos educadores e educadoras na sequência do ano letivo. É impossível em uma semana recuperar-se do cansaço físico e mental adquirido nestes primeira metade do ano. Mesmo porque tivemos um início muito conturbado com as medidas tomadas pelo governo do Paraná. Com menos tempo para a hora-atividade, voltamos a trabalhar por longas horas nas madrugadas e nos finais de semana. Muitos de nós estamos amargando rotinas de trabalho em 3, 4 e até 5 escolas. E pior, vários para não terem prejuízos no próximo ano estão trabalhando doentes.

É visível o aumento do desgaste profissional que hoje afeta professores e funcionários no interior das escolas públicas. A escola da atualidade tem se configurado como um espaço privilegiado de adoecimento. Haja vista o número de educadores e educadoras afastados da sala de aula, readaptados de função, e o constante crescimento do número de atestados médicos na rede. A exaustão profissional se agrava com a visível  crise que atravessa o espaço escolar, e especialmente, pela ausência visíveis de perspectivas para a sua superação. Aqueles que deveriam apontar e construir caminhos estão mais envolvidos em rotinas burocráticas, e em estratégias de manutenção de pseudos poderes que, em última instância , os aprisionam nas maléficas e destrutivas teias do conformismo.

A solução para a redução do quadro de adoecimento que professores e funcionários paranaenses parece para boa parte da categoria uma coisa muito distante. Aliás, são poucos os espaços efetivos de debate que envolva a categoria sobre as perspectivas da educação. De um lado, o governo do Paraná, para enfrentar o problema prefere ameaçar e punir os doentes. Por outro, a direção estadual da APP, já desgastada e  presa nos marcos da escola atual não consegue estabelecer um diálogo com a sociedade e com o próprio governo sobre a gravidade e complexidade da situação.

Nada melhor para exemplificar o descaso com que o problema tem sido tratado, do que a redução gradativa do recesso escolar do mês de julho. Cada vez mais somos vistos e tratados como se fôssemos meros números reduzidos à quadros de estatísticas palacianos. A direção estadual da APP-Sindicato, consumida por um certo conformismo burocrático tem dificuldades de ultrapassar os entraves da legislação para garantir uma condição adequada de trabalho para a categoria. Esquece que as Leis podem sim ser mudadas e, da força inerente da luta organizada coletivamente. Historicamente, as  lutas coletivas têm  mudado leis e parâmetros sociais. Sem ousadia de nossas lideranças sindicais iremos cada vez mais amargar dias terríveis para a educação pública do Paraná e do país.

Neste momento difícil que vivemos no país e no Paraná , em que os trabalhadores e trabalhadoras em geral estão sendo atacados em seus direitos é fundamental fortalecermos nossos instrumentos de luta ,e especialmente, restabelecermos a esperança da categoria na luta coletiva e em seu sindicato. Sem isto, amargaremos novas perdas e o desânimo tomará conta da maioria de nós. Finalizo lembrando de uma frase dita pelo companheiro professor Pedro Elói, um dos integrantes do grupo APP-Independente. “Podemos até viver com um pouco menos de dinheiro, mas é impossível  viver sem esperança.”