Feriado de Corpus Christi, quinta-feira, sol quente. Alguns olhares de surpresa, outros de estranhamento, uns de solidariedade voltam-se para um grupo de caminhantes à beira da rodovia, próximos à cidade de Ponta-grossa. Em fila dupla, com passos firmes e seguros, trazem um novo visual para as margens da estrada. As bandeiras e faixas, aos poucos vão os identificando. São educadores: professores, estudantes e funcionários de escolas.

Da janela de um carro, a curiosa pergunta. Por que marcham os professores?Professores e funcionários caminham por uma educação pública melhor. Marcham por uma sociedade melhor. Há anos em caminhada, em marcha nas ruas, nas salas de aulas pela qualidade da educação pública do Paraná. Uma reivindicação justa e fundamental para o conjunto dos paranaenses. E nessa caminhada, além de educar os nossos filhos, os educadores se educam cotidianamente. Percebem que apesar do tema educação ser componente obrigatório do discurso político eleitoral e a sua importância fazer parte do senso comum nacional, contraditoriamente, os recursos para a educação diminuem ano a ano, em virtude das políticas econômicas de ajuste do Estado. Percebem que embora seja um direito do cidadão, aos poucos, a educação de qualidade vai se transformando em uma mercadoria a ser adquirida na fogueira de vaidades do mercado.

Nesta nobre caminhada, nossos mestres e funcionários aprenderam que a busca por melhorias na educação pública está mais associada à mobilização da categoria, da sociedade civil do que aos planos e discursos de governantes. Basta fazer um breve olhar histórico. As conquistas para a educação sempre vieram pela mão da intervenção do movimento organizado dos educadores. Por isto, os educadores continuam caminhando. A III Marcha pela Educação é um momento e um símbolo desta caminhada. Guerreiros, durante cinco dias, os marchantes representantes de diversas regiões do estado, fazem com que ousemos a sonhar com dias melhores.

Marcham pela equiparação salarial dos professores com as demais carreiras do Estado que têm como exigência de ingresso o ensino superior. Hoje, estas carreiras têm como piso inicial de salário mais que o dobro do inicial do professor para a mesma jornada de trabalho. Será que o “tão importante” trabalho do professor é de complexidade menor? Não queremos afirmar aqui que os salários destes trabalhadores estejam bons, muito pelo contrário. Mas, por que o “tão importante” trabalho do educador vale menos? Chegamos a pensar que esta desvalorização está associada ao fato de nossa categoria ser composta majoritariamente por mulheres. Reproduz-se assim, na educação a discriminação às categorias femininas no mercado de trabalho. Esta distorção, esta discriminação precisa ser corrigida!

Marcham pela aprovação de um Plano de Carreira para os funcionários de nossas escolas no quadro da educação. Os funcionários, dentro da especificidade do seu trabalho, também são educadores. Só o Plano os dará a possibilidade de vislumbrar um horizonte profissional.

Marcham contra as perseguições e retaliações políticas aos dirigentes sindicais da APP. Através de processos administrativos, de ataques pelos órgãos oficiais de comunicação e especialmente, através do corte das liberações sindicais, medida que contraria o direito à organização sindical previsto na Constituição Federal, o governo do estado tenta calar a voz e esconder a alma dolorida dos educadores.

Não é o nosso objetivo travar uma guerra contra o governo Requião. Mesmo por que reconhecemos avanços em seu governo, especialmente àqueles ligados à valorização do caráter público da educação e ao fortalecimento papel do estado. No entanto, não podemos ficar calados diante da triste realidade que os educadores enfrentam dia após dia. Requião, em campanha eleitoral comprometeu-se em repor nossas perdas salariais. (Ainda há tempo para que esta não tenha sido apenas uma promessa de campanha). Além dos baixos salários, salas de aulas superlotadas, o desgaste físico e emocional do trabalho tem deixado parte da categoria doente. Cresce de maneira assustadora o número de professores que se ausentam das salas de aula para tratamento de saúde. Por mais que não se queira a ver, a realidade do educador é dura. Na semana passada, por exemplo, mestres do Rio de Janeiro transformaram-se em escudos humanos para proteger seus alunos de um tiroteio. Por sermos educadores, por acreditarmos no papel transformador e emancipador da educação não podemos ficar calados.

Governador, ainda é tempo de restabelecer um diálogo efetivo com a categoria. A proposta de aumento de recursos para a educação e consequentemente de melhorias salariais para 2007 não resolve a questão. Ora, a categoria teria que reelegê-lo para sonhar com o reajuste no ano que vem? Esperamos uma proposta concreta do governo. Os estudos e a análise das finanças do Estado do Paraná comprovam a tese de que é possível sim, atender reivindicações da educação sem o comprometimento da saúde financeira do Estado dentro dos limites instituídos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A própria justiça acaba de nos dar razão e está obrigando o Estado a conceder a reposição das perdas inflacionárias da categoria. Para o bem da educação e para o bem do estado estamos abertos ao diálogo.

O ato de educar é, em seu cerne, um ato transformador. O conhecimento é transformador. Que ruim seria se os nossos educadores não fossem agentes de transformação da sua própria realidade concreta enquanto educadores! Os educadores precisam melhoras suas condições concretas de existência. Que bom se todos os educadores, da escola primária ao ensino superior pudessem ter salários que o permitissem a ter residência, um meio de locomoção, assinaturas de jornais e revistas, uma boa biblioteca, uma boa alimentação e a possibilidade de participar de cursos de atualização, de ir em shows, teatros, exposições etc. Com certeza a educação estaria bem melhor, pois não se pode oferecer, aquilo que não se tem.

Por isto, marchamos.

“Caminhamos, educamos hoje para transformar o amanhã”