Confira uma entrevista de Luiz Carlos Paixão concedida à revista Educação, n 100.

Qual o diagnóstico que você faz da educação básica no Brasil? Quais os principais problemas, avanços e retrocessos que a educação vive?

Para nós, é fundamental que o nosso país dê um salto de qualidade na educação. Por isso, julgamos fundamental um sólido investimento na educação básica brasileira. Nessa área, o país tem uma série de desafios que devem ser enfrentados de maneira articulada e planejada. Destacamos alguns: universalização do acesso à educação básica – no ensino fundamental atingimos cerca de 97% do universo de crianças em idade escolar. Ainda faltam 3%; um número muito grande de crianças sem estudar. No ensino médio, a situação é mais complicada ainda. Dos estudantes que concluem o ensino fundamental, menos de 30% alcançam o ensino médio.
Outra questão não menos preocupante diz respeito ao acesso à educação infantil. Segundo o IBGE (Censo de 2000), apenas 23% de crianças de 0 a 6 anos de idade freqüentam creches e pré-escolas. Permanência dos estudantes na escola – esse é outro desafio a ser enfrentado. A preocupação com a diminuição da evasão e da repetência tem acompanhado grande parte dos debates da educação. Os governos e os educadores têm enfrentado essa questão. No entanto, ela não se resolve de maneira isolada.Vários componentes estão interligados nessa questão; a oferta, a qualidade, a valorização dos educadores e o crescimento do quadro de exclusão social no país. Creio ser importante fazer o registro de que algumas medidas tomadas por diversos Estados brasileiros de aceleração ou correção de fluxo, orientadas pelo viés do neoliberalismo. Estas não contribuíram para o enfrentamento da questão. Muito pelo contrário, estas vieram na contramão da qualidade da educação.

Qualidade – A busca pela qualidade da educação é um desafio primordial. Somente uma educação de qualidade poderá fazer com que os estudantes tenham autonomia intelectual e política para a compreensão deste complexo mundo em que vivemos. Só com essa ferramenta, estes poderão ser agentes e sujeitos da história. Um conjunto de componentes é necessário para enfrentarmos esse desafio, do qual destaco a valorização profissional dos professores e funcionários de escolas, a instituição de um piso nacional salarial digno, o investimento na formação e qualificação dos educadores, a redução do número de alunos por turma, o aumento da hora-atividade (tempo da carga horária do professor para ser utilizado na preparação de aulas e correção de atividades dos alunos), investimento na infra-estrutura escolar entre outros.

Na sua opinião, qual é o principal desafio para alavancar o desenvolvimento e a qualidade da educação em nosso país?

Na minha opinião e na de vários educadores do país, o grande desafio e, ao mesmo tempo, a saída para a educação dar um salto de qualidade é o aumento do investimento na educação. Não temos outra saída, a boa educação custa caro. É preciso superar urgentemente a visão mercadológica sobre a educação. A educação é uma política social fundamental e necessária. As entidades organizadas da sociedade civil têm defendido que o governo brasileiro aumente a aplicação de 4,5% para 10% do PIB em educação. E isso é possível. Temos defendido que o governo converta parte da dívida externa em recursos para a educação. É preciso inverter as prioridades e investir no povo brasileiro.

Sobre os professores, para você, o que é ser um bom professor atualmente? Que diferenças existem para o bom professor de antigamente? O que mudou?

As condições de trabalho, as condições para a sobrevivência dos professores pioraram muito. O número de educadores doentes em virtude da exaustão do trabalho tem assustado. Nesse quadro, o bom profissional, além de superar essas adversidades, precisa acima de tudo ter um compromisso com a educação. Compromisso técnico e político com o papel da educação na sociedade brasileira. E especialmente, deve acreditar na possibilidade de construção de um mundo melhor, justo, pautado pela superação das desigualdades sociais.